Polêmicas, mitos e farsas sobre o câncer
Células do sistema imune atacando uma célula cancerígena.
O câncer, assim como muitos dos outros graves e recorrentes problemas de saúde, é tema de várias polêmicas, mitos, farsas e pseudociências.
Isso não ocorre só por causa do problema em si – sua recorrência, gravidade, e de como ele pode ser indiretamente afetado por inúmeros fatores da vida cotidiana – mas ocorre também por causa do lucro da indústria farmacêutica e dos hospitais, e de como isso poderia afetar suas intenções e ações quanto à doença.
O câncer é um tema muito variado, complexo, e que é estudado a fundo por inúmeras instituições de pesquisa sérias há décadas, que estão sempre em busca de criar métodos e conhecimentos para evitar, detectar, diagnosticar e tratar da melhor forma possível cada forma de câncer, assim como de expor todos fatores que devem ser evitados e controlados.
A pseudociência, os mitos e as farsas põem em risco o conhecimento fiável que é criado pelos verdadeiros pesquisadores e cientistas, que se esforçam para esclarecer a realidade dos mecanismos dos cânceres, e de como podemos evitá-los, detectá-los, diagnosticá-los e tratá-los.
- Primeiramente, o que é o (ou um) câncer?
Nem todos tumores são cânceres, visto que todo aglomerado ou massa incomum de células pode ser considerado um tumor, mas não são necessariamente células cancerígenas.
Vale citar o quanto o termo “câncer” sozinho pode se tornar vago e impreciso se não for bem complementado, ou se for tratado como uma só coisa.
- O que pode causar cânceres?
Um câncer pode começar por células mutantes que sofreram a mutação influenciada por fatores internos (disfunções hormonais, predisposição genética, predisposição causada por doenças e mal-condicionamento físico, etc), assim como por células expostas a/infectadas por agentes/fatores cancerígenos. Vírus, compostos químicos e diversos tipos de radiação podem causar cânceres.
Nesta parte já começa a questão das polêmicas, mitos e farsas, pois poucos fatores realmente periogosos ficam desapercebidos por muito tempo, ou sequer chegam a entrar em contato com as pessoas no cotidiano. Apesar de que isso já ocorreu algumas vezes, a tendência é de ocorrer cada vez menos. Não há nenhum fator destes que vá causar câncer de forma certa, ou rápida, eles irão no máximo aumentar as chances de desenvolver um câncer, porém não tornando isso algo certo e nem muito provável, fatores muito fortes não passariam desapercebidos assim, e quando um fator relevante é detectado, ele logo é comunicado ao público por organizações oficiais de saúde e medicina, e então controlado (se possível).
- Quais as formas de prevenção?
Ter uma dieta saudável, balanceada e fazer exercícios físicos sem dúvida ajuda a ter melhor condicionamento físico e aumenta a resistência do sistema imunológico, porém a maior parte dos cânceres não deixa de ser destruída por falta de força bruta, mas sim por não serem reconhecidos em primeiro lugar, por “driblar” os mecanismos de regulação do crescimento celular do organismo, ou pelo menos por tempo suficiente para se tornar muito grande para ser vencido. Mas, ter um corpo mais forte pode te ajudar a suportar melhor os efeitos colaterais dos tratamentos, além de diminuir a predisposição, porém, não há “dieta milagrosa” ou “rotina milagrosa” que evite “o câncer” como propagam.
Em ambientes controlados, onde a interação com agentes/fatores cancerígenos se faz necessária, equipamentos de proteção, medidas de prevenção e rotinas de checagem são implementados para minimizar os riscos, e para maximizar a velocidade e precisão da detecção, dos diagnósticos e dos tratamentos aplicados. Também deve ser oferecido ao trabalhador um plano de saúde que cubra os tratamentos necessários, ou algum tipo de apoio específico.
Evitar o tabagismo, o alcoolismo, a obesidade, a sedentariedade, a exposição prolongada e desprotegida ao Sol e fontes de radiação ionizante, e se vacinar são algumas das ações mais conhecidas e efetivas para se reduzir os riscos de ter os tipos mais comuns de cânceres (além de evitarem toda uma gama de outras doenças), porém existem outros fatores que não são muito conhecidos, alguns por ter controle mais específico, não sendo de comum interação com as pessoas, e outros por que o risco oferecido é dúbio, e por isso mesmo não há base científica para falar deles, e é exatamente nesses supostos fatores em que surge uma parte das polêmicas, mitos e farsas que são espalhadas sobre cânceres. Também surgem polêmicas sobre outros fatores conhecidamente cancerígenos que aparentemente podem impor risco, porém na verdade são controlados, não estando de forma a oferecer risco.
Quando algo representa um risco real, as pesquisas científicas serão as primeiras a detectar este algo, a alertar sobre (mesmo que não para o público inicialmente, o que deve ser feito por organizações oficiais) e propor medidas de controle e prevenção.
- Quais as formas de detecção?
Existe uma enorme variedade de cânceres, e nem sempre os sintomas e sinais são comuns e/ou claros, além de que os sintomas/sinais podem surgir em um estágio já muito avançado.
Cada câncer causa diferentes alterações no organismo, e existe uma variedade de formas de
detecção deles, várias que são comuns entre diferentes tipos, outras mais específicas de alguns cânceres.
A forma mais comum de detecção é através de imageamento, detectando as massas de tecido cancerígeno e/ou o deslocamento nos tecidos vizinhos, em maior parte por imagens de raios-X e ultrassonografia.
Outras formas incluem a detecção por apalpamento, tocando as áreas que possivelmente tem tumores, e por análise de tecidos e fluidos do corpo, como análise do sangue, urina, secreções, tecido muscular, etc. Esta última inclusive é uma das formas de detecção mais promissoras para alguns tipos e estágios de cânceres, pois permitem a detecção enquanto o câncer ainda não se desenvolveu muito, além de que estes testes podem ser mais facilmente incluídos em exames de rotina corriqueiros do que raios-X e ultrassonografias por exemplo.
- Quais as formas de tratamento?
Dentre os principais métodos de tratamento estão a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia, porém também há “tratamentos” (o mais correto seria cuidados) paliativos. Os 4 podem se complementar (o que geralmente ocorre).
A cirurgia consiste em remover as maiores massas de tecido cancerígeno, reduzindo o dano causado aos tecidos vizinhos e evitando a metástase de espalhar pedaços daquele tecido por partes distantes do corpo (que pode já ter começado a ocorrer).
A Radioterapia usa a radiação ionizante localizada para danificar o tecido celular, afim de causar a morte celular, com enfoque nas áreas com maiores massas de tecido cancerígeno.
A Quimioterapia utiliza drogas que atacam principalmente as células cancerígenas, porém que também causam danos a muitas outras células, principalmente células de crescimento rápido, como as que compõem o cabelo.
Os cuidados paliativos, por sua vez, consistem em garantir a qualidade de vida do paciente, reduzir o sofrimento, e também potencializar os tratamentos (ao evitar/reduzir os efeitos colaterais negativos, ajudando a manter sua resistência). Sempre há cuidados paliativos em todos casos acima, porém pode não haver mais tratamentos cabíveis quando o paciente está em estágio terminal, podendo então haver um enfoque somente nos cuidados paliativos.
Geralmente se recorre a quimioterapia, mesmo quando se faz algum outro tratamento, pelo fato de que pequenas massas de tecido cancerígeno podem “escapar” da cirurgia e da radioterapia.
Não há tratamento “milagroso”, muito menos usando simplesmente frutas e ervas ou outros itens e métodos banais. Algumas plantas tem sim compostos que podem ter efeito quimioterápico, porém, estas já estão quase todas ou em uso, ou sob pesquisas, e se elas forem realmente eficazes a ponto de competir com as drogas quimioterápicas vigentes, se farão novas drogas quimioterápicas delas (não necessariamente substituindo todas que já existem).
- Quais são as principais polêmicas, mitos e farsas envolvendo o câncer?
É muito comum de se ver o tema envolvido em polêmicas, mitos e farsas em 3 principais questões:
Os fatores causadores de cânceres, assim como os métodos de prevenção para eles.
As formas de tratamento e medicina alternativa.
Os interesses das instituições de pesquisa, das indústrias e hospitais que desenvolvem, comercializam e administram os tratamentos, métodos de detecção e prevenção.
As formas de tratamento e medicina alternativa.
Os interesses das instituições de pesquisa, das indústrias e hospitais que desenvolvem, comercializam e administram os tratamentos, métodos de detecção e prevenção.
- Sobre os fatores de risco e o alarmismo exagerado:
É muito comum ver correntes denunciando alguns produtos (principalmente produtos industrializados, por supostamente terem compostos cancerígenos em níveis perigosos) e outros fatores corriqueiros como causadores de cânceres. Da mesma forma, outras propõe formas milagrosas de prevenção, incluindo dietas específicas, rotinas, rituais e produtos específicos.
Há pouco tempo, uma corrente dizia que os carros acumulavam Benzeno, e utilizar o ar-condicionado aumentava muito o acúmulo, até mesmo dizendo que um senhor passou mal pelos níveis de benzeno, com uma imagem sendo atribuída ao falso caso, que era de uma situação completamente não relacionada.
O Benzeno é cancerígeno, e por isso mesmo é um fator controlado pela indústria automobilística, principalmente quanto às peças plásticas do interior do carro. Além delas mesmas, outras instituições de vigilância também fazem ensaios e testes com produtos amplamente comercializados.
É muito comum ver esse tipo de corrente alarmista, sempre com letras maiúsculas, e muitas vezes com imagens falsas junto (e de outras sendo apenas imagens ilustrativas, não sendo “falsas”).
Vale lembrar a importância de pessoas atentas à estas questões, porém o alarmismo desnecessário e infundado pode ser altamente prejudicial e desinformante. Sempre busque as fontes que em algum momento citem pesquisas de fato, ou que venham diretamente de um instituto de pesquisa, universidade ou algo do tipo.
- Sobre as formas de tratamento e a medicina alternativa.
“Você sabe como chamam a Medicina Alternativa que foi provada que funciona? – Medicina.” ― Tim Minchin
Também vale a intenção de todos que buscam pesquisar métodos alternativos aos já existentes para o tratamento dos cânceres, mas, novamente, que seja de forma científica e criteriosa, e que se seja assertivo quanto ao que se sabe da eficácia desse método, das adversidades e dos efeitos colaterais, mesmo que poucos. Não existem métodos milagrosos de tratamento que não tenham adversidades e efeitos colaterais.
Muitos promovem algumas ervas e frutas como curadoras milagrosas “do câncer”, sendo que dificilmente um só agente, por mais eficaz e concentrado que fosse, poderia tratar com considerável eficácia todos cânceres. Cada um tem um tratamento específico, ou com variações específicas, geralmente envolvendo a quimioterapia, porém a mesma pode ser feita com diferentes drogas quimioterápicas, e a forma de aplicação também varia, assim como variam todos outros tratamentos.
Pode-se ressaltar a maconha por exemplo (algumas espécies em especial), que apesar de não “curar o câncer”, demonstra certo potencial em produzir compostos quimioterápicos, porém esse potencial não é tão extenso a ponto de fazê-la uma droga amplamente utilizável na quimioterapia, ou competitiva com as já existentes, porém ela é aplicável nos cuidados paliativos, aliviando a dor, aumentando o apetite, melhorando a auto-estima do paciente etc. Há muitas instituições de pesquisa sérias movendo esforços em explorar os potenciais da droga, e os exageros, mitos e farsas podem atrapalhá-las nas descobertas reais.
A maior parte das outras alegações são infundadas, se apoiam em potenciais dúbios de determinados compostos, ou usam informações de pesquisas reais de forma desonesta, confundindo o leitor, e atrapalhando estas pesquisas.
Também há outras correntes de desinformação que promovem o misticismo e a religiosidade, como dizer que certos ritos, cirurgias espirituais, objetos sagrados ou líquidos e comidas sagradas podem “curar o câncer”.
A desinformação sobre as formas de tratamento dos cânceres são o maior problema nesse campo, pois fazem muitas pessoas abandonarem o tratamento real e efetivo pelo alternativo, causando centenas senão milhares de mortes no mundo todo.
- Sobre as conspirações contra a indústria, as instituições de pesquisa e os hospitais.
Também vale ressaltar que a desconfiança contra estes é válida, vide vários escândalos pelos quais já passaram em diversas outras questões da saúde.
Muitos alegam que a indústria farmacêutica e os hospitais lucram bilhões com o tratamento dos cânceres (o que até aí é verdade), e que por isso não buscam métodos mais baratos e eficazes de os prevenir, detectar e tratar (o que não é comprovado, e nem tem grandes evidências a favor).
Vale citar também que muitas pessoas poderosas e ricas já morreram, sofreram ou ainda sofrem com cânceres, e utilizam dos mesmos métodos de tratamentos descobertos até hoje que todos usam (com todo um nível de atendimento e tratamento mais alto, com os melhores médicos e especialistas que puderem conseguir, mas ainda sim, não tendo nenhum tratamento milagroso disponível, apesar de ter maior índice de sucesso nos tratamentos, pela alta qualidade).
Além disso, as instituições de pesquisa nem sempre trabalham exclusivamente para a indústria farmacêutica e/ou para os hospitais, vale citar as que são independentes, ou que pertencem à universidades e centros acadêmicos, cujo enfoque é a ciência e o conhecimento.
Pode ocorrer da maioria da indústria farmacêutica e/ou dos hosptais não considerarem que um método de detecção/tratamento novo venha a ser lucrativo e/ou vantajoso, porém a divulgação deste por parte do instituto de pesquisa causaria grande desconfiança, caso não fosse implementado em nenhum lugar após um tempo de ter sido comprovada a eficácia e vantagem dele, ainda mais se ele for implantado em algum lugar e funcionar.
Novamente, reforço a importância da informação, da divulgação científica mais especificamente, e também dos pesquisadores e cientistas cujo interesse principal é a própria ciência e o conhecimento, especialmente se for em favor da humanidade (mas não invalidando o conhecimento pelo conhecimento, que pode ser útil mesmo assim).
Na relação entre paciente e hospital, a desconfiança tem fins bem mais diretos e visíveis, visto a quantidade de vezes em que hospitais são desonestos quanto os procedimentos, de forma a lucrar mais, porém não deixando de usar o tratamento adequado ainda sim. Se manter informado quanto aos procedimentos necessários e sobre seus direitos enquanto paciente é importante para evitar e denunciar a desonestidade e abusos contra os pacientes.
- Em Conclusão:
A desinformação é um grande câncer para a sociedade, e deve ser combatida com a informação.
O câncer é um assunto complexo e diverso, e não há curas ou soluções milagrosas para esse grupo de doenças.
Procurar por novas formas de lidar com o problema é completamente válido e imprescindível, porém sempre através de pesquisas científicas bem controladas, criteriosas e documentadas, sendo o mais precisas e assertivas o possível quanto ao que se sabe e é sólido, e o que ainda é dúbio e incerto. Também é necessário divulgar os resultados, repetí-los e pô-los em prática.
Sugerir, propagar, procurar, usar e aplicar alternativas infundadas e/ou dúbias pode evitar que as pessoas (e os animais) utilizem os métodos realmente eficazes de prevenção, detecção e tratamento, aumentando o risco de sofrerem por causa destas doenças.
A desconfiança quanto à indústria farmacêutica e aos hospitais é completamente admissível, mas só é saudável quando usa de evidências reais e claras, com argumentos lógicos bem trabalhados embasados nestas, para suportar idéias que vão de encontro com o que eles propõe ser verdade, e estes argumentos também hão de ser discutidos e postos à prova, e abandonados caso fique provado que estão errados e/ou infundados.
Mais casos de mitos e farsas sobre o câncer:
Fontes:
http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322 (e outras páginas do inca)
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